Há uma relação entre Ciência e Democracia. Para se participar na História é necessária a informação. A sociedade evolui quando os cidadãos estão a par no Conhecimento, sendo que muito deste se deve à Ciência e à Tecnologia. Ambas estão presentes de forma mais ou menos intensa e mais ou menos complexa no quotidiano dos cidadãos dos países desenvolvidos. Os livros didácticos e mesmo os professores não têm condições para acompanhar este desenvolvimento.
Neste sentido os media têm um papel fundamental neste processo enquanto fornecedores de informações científicas e da constante evolução destas áreas. Para que tal aconteça os órgãos de comunicação necessitam de contratar profissionais que dominadores das matérias abordadas.
A revista britânica NatureNews publicou a 18 de Março deste ano, uma sondagem feita a um universo de 491 jornalistas científicos dos continentes europeu, americano e asiático, na qual 59,1% dos inquiridos afirmou que nos últimos 5 anos aumentou o número de artigos publicados e 59,8% recomendariam uma carreira no jornalismo científico, tecnológico, ambiental ou de saúde a alunos, o que só comprova a necessidade de formação de jornalistas científicos.
Apesar desta necessidade, são raros os jornalistas especializados em jornalismo científico, o que no nosso país se torna evidente devido à inexistência de cursos académicos que formem este tipo de profissionais e leva a que muitas vezes sejam os intervenientes dos processos científicos a adquirirem formação em Comunicação.
Os norte-americanos Jim Hartz e Rick Chappell em Worlds Apart vão mais longe defendendo que “Para ser competente, um jornalista científico deve sentir-se confortável com diversas disciplinas científicas como de engenharia. A sua educação deveria incluir experiências em laboratório, onde o ambiente de um processo científico possa ser sentido e aprendido”. Perante tais afirmações urge perguntar afinal no que é que o jornalismo científico difere do jornalismo generalista e quais são as especificidades da produção de uma notícia deste género.
Na sua tese de doutoramento “Jornalismo Científico no Brasil: os compromissos de uma prática independente” o brasileiro Wilson da Costa Bueno define que divulgação científica é a “transferência de informações científicas e tecnológicas, transcritas em códigos especializados, a um público selecto, formado por especialistas”, mas isto não é jornalismo uma vez que a prática desta actividade implica a descodificação de mensagens de forma a que sejam percebidas pelo seu público.
O jornalista tem que ser um tradutor que permite a percepção das actividades desenvolvidas pelos cientistas, o que segundo Cláudio Bertolli Filho é um tratamento de “temas complexos de ciência e tecnologia” de forma a que se torne “fluida a leitura e o entendimento do texto noticioso por um público não especializado”. Apesar destas diferenças este tipo de jornalismo implica na mesma uma periodicidade, difusão colectiva, total rigor e seriedade por parte de quem trata a informação, uma vez que esta pode ter implicâncias externas a nível económico, social, cultural e até político.
Embora haja quem defenda que o jornalismo científico acaba por ser um discurso de ciência degradado, esta actividade implica o manuseamento de técnicas linguísticas e recursos estilísticos que ao serem eficazes são uma prova cabal da destreza e flexibilidade do jornalista ao conseguir produzir a partir de temas complexos, notícias perceptível e cativantes para o leitor que muitas vezes é destituído de potencialidades para entender o vocabulário básico não só científico mas como generalista.
Regra geral os leitores dispensam o jornalismo científico, cabendo ao jornalista cativar o público desinteressado sem cair num facilitismo e ausência de densidade e profundidade que possam afastar aqueles que já eram leitores deste género de artigos. Também lhe cabe definir o que é digno de ser contado ou não, obedecendo a alguns critérios na selecção da informação, da sua produção e publicação. O jornalista científico deve escolher temas com impacto, como a medicina e a saúde; saber avaliar o que é notícia; estar próximo dos investigadores e laboratórios; avaliar com destreza a informação que lhes é fornecida, não vá um cientista enganá-lo em busca de auto-promoção e possuir conhecimentos em diversos sectores científicos como a biologia ou a matemática. Tal como acontece com os temas generalistas a proximidade, a necessidade de conhecimento e curiosidade do público também devem ser tidos em conta por estes jornalistas.
Enumeras vezes não há harmonia entre os jornalistas e os cientistas que sentem que o seu árduo e demorado trabalho é resumido em simples e efémeras palavras. Porém é um dever dos cientistas explicarem-se para a sociedade sendo necessário um mútuo respeito entre estes e os profissionais do quarto poder.
Neste novo século para que todos os povos se desenvolvam em harmonia e se evitem catástrofes de outrora, é necessário compreender o papel da Ciência no concretizar dos desafios que se atravessam no nosso caminho. A evolução também passa pela forma como se pratica jornalismo científico que não deve ser descurado nem pelos jornalistas nem pelos seus editores. Para que tal aconteça precisamos de ter profissionais conscientes das especificidades do sector e que estejam preparados não só para traduzir a fala especializada dos cientistas, mas também para fornecer ao público uma visão crítica com o objectivo da evolução.
Bibliografia:
Bertolli Filho, Cláudio (2006) Elementos fundamentais para a prática do jornalismo científico, pag 3, linha 42 – 49.
Bueno, W. da C. (1984) Jornalismo Científico no Brasil: os compromissos de uma prática independente. São Paulo: Tese de doutoramento apresentada à Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo.
Hartz, Jim e Chappell, Rick (1997) Worlds Apart – How The Distance Between Science and Journalism Threatens America’s Future, pag 109, linha 28 - 33.
http://www.nature.com/news/2009/090318/full/458274a.html
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Boa noite,
ResponderEliminarSou estudante do 2º ano de Bioquímica e tenho em vista uma carreira em jornalismo científico.
Gostava de saber a via educativa que devo tomar (qual o tipo de formação a ter depois da licenciatura) e até que ponto é uma opção viável em Portugal.
Com os melhores cumprimentos,
Natacha P. Leitão
e-mail: natacha.apleitao@sapo.pt
Eu sou estudante de ciências biológicas, amo de verdade o meu curso. Mas, por ter maior afinidade com as disciplinas voltadas a comunicação, também decidi seguir esta carreira. Pensei até em mudar de curso. Porém, gosto muito do meu curso e penso muito antes de abandonar. Gostaria de saber qual caminho deveria seguir também. No meu país não existe uma opção de pós graduação para quem quer seguir esta carreira.
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