quarta-feira, 25 de março de 2009

O Jornalismo Científico e a sua prática.

Há uma relação entre Ciência e Democracia. Para se participar na História é necessária a informação. A sociedade evolui quando os cidadãos estão a par no Conhecimento, sendo que muito deste se deve à Ciência e à Tecnologia. Ambas estão presentes de forma mais ou menos intensa e mais ou menos complexa no quotidiano dos cidadãos dos países desenvolvidos. Os livros didácticos e mesmo os professores não têm condições para acompanhar este desenvolvimento.

Neste sentido os media têm um papel fundamental neste processo enquanto fornecedores de informações científicas e da constante evolução destas áreas. Para que tal aconteça os órgãos de comunicação necessitam de contratar profissionais que dominadores das matérias abordadas.

A revista britânica NatureNews publicou a 18 de Março deste ano, uma sondagem feita a um universo de 491 jornalistas científicos dos continentes europeu, americano e asiático, na qual 59,1% dos inquiridos afirmou que nos últimos 5 anos aumentou o número de artigos publicados e 59,8% recomendariam uma carreira no jornalismo científico, tecnológico, ambiental ou de saúde a alunos, o que só comprova a necessidade de formação de jornalistas científicos.

Apesar desta necessidade, são raros os jornalistas especializados em jornalismo científico, o que no nosso país se torna evidente devido à inexistência de cursos académicos que formem este tipo de profissionais e leva a que muitas vezes sejam os intervenientes dos processos científicos a adquirirem formação em Comunicação.

Os norte-americanos Jim Hartz e Rick Chappell em Worlds Apart vão mais longe defendendo que “Para ser competente, um jornalista científico deve sentir-se confortável com diversas disciplinas científicas como de engenharia. A sua educação deveria incluir experiências em laboratório, onde o ambiente de um processo científico possa ser sentido e aprendido”. Perante tais afirmações urge perguntar afinal no que é que o jornalismo científico difere do jornalismo generalista e quais são as especificidades da produção de uma notícia deste género.

Na sua tese de doutoramento “Jornalismo Científico no Brasil: os compromissos de uma prática independente” o brasileiro Wilson da Costa Bueno define que divulgação científica é a “transferência de informações científicas e tecnológicas, transcritas em códigos especializados, a um público selecto, formado por especialistas”, mas isto não é jornalismo uma vez que a prática desta actividade implica a descodificação de mensagens de forma a que sejam percebidas pelo seu público.

O jornalista tem que ser um tradutor que permite a percepção das actividades desenvolvidas pelos cientistas, o que segundo Cláudio Bertolli Filho é um tratamento de “temas complexos de ciência e tecnologia” de forma a que se torne “fluida a leitura e o entendimento do texto noticioso por um público não especializado”. Apesar destas diferenças este tipo de jornalismo implica na mesma uma periodicidade, difusão colectiva, total rigor e seriedade por parte de quem trata a informação, uma vez que esta pode ter implicâncias externas a nível económico, social, cultural e até político.

Embora haja quem defenda que o jornalismo científico acaba por ser um discurso de ciência degradado, esta actividade implica o manuseamento de técnicas linguísticas e recursos estilísticos que ao serem eficazes são uma prova cabal da destreza e flexibilidade do jornalista ao conseguir produzir a partir de temas complexos, notícias perceptível e cativantes para o leitor que muitas vezes é destituído de potencialidades para entender o vocabulário básico não só científico mas como generalista.

Regra geral os leitores dispensam o jornalismo científico, cabendo ao jornalista cativar o público desinteressado sem cair num facilitismo e ausência de densidade e profundidade que possam afastar aqueles que já eram leitores deste género de artigos. Também lhe cabe definir o que é digno de ser contado ou não, obedecendo a alguns critérios na selecção da informação, da sua produção e publicação. O jornalista científico deve escolher temas com impacto, como a medicina e a saúde; saber avaliar o que é notícia; estar próximo dos investigadores e laboratórios; avaliar com destreza a informação que lhes é fornecida, não vá um cientista enganá-lo em busca de auto-promoção e possuir conhecimentos em diversos sectores científicos como a biologia ou a matemática. Tal como acontece com os temas generalistas a proximidade, a necessidade de conhecimento e curiosidade do público também devem ser tidos em conta por estes jornalistas.

Enumeras vezes não há harmonia entre os jornalistas e os cientistas que sentem que o seu árduo e demorado trabalho é resumido em simples e efémeras palavras. Porém é um dever dos cientistas explicarem-se para a sociedade sendo necessário um mútuo respeito entre estes e os profissionais do quarto poder.

Neste novo século para que todos os povos se desenvolvam em harmonia e se evitem catástrofes de outrora, é necessário compreender o papel da Ciência no concretizar dos desafios que se atravessam no nosso caminho. A evolução também passa pela forma como se pratica jornalismo científico que não deve ser descurado nem pelos jornalistas nem pelos seus editores. Para que tal aconteça precisamos de ter profissionais conscientes das especificidades do sector e que estejam preparados não só para traduzir a fala especializada dos cientistas, mas também para fornecer ao público uma visão crítica com o objectivo da evolução.

Bibliografia:

Bertolli Filho, Cláudio (2006) Elementos fundamentais para a prática do jornalismo científico, pag 3, linha 42 – 49.

Bueno, W. da C. (1984) Jornalismo Científico no Brasil: os compromissos de uma prática independente. São Paulo: Tese de doutoramento apresentada à Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo.

Hartz, Jim e Chappell, Rick (1997) Worlds Apart – How The Distance Between Science and Journalism Threatens America’s Future, pag 109, linha 28 - 33.

http://www.nature.com/news/2009/090318/full/458274a.html

Darwin pagava dinheiro extra para comer legumes

Na sua passagem pelo Christ's College entre 1828 e 1831, Charles Darwin que nascido a 1809 rondava os 20 anos, gastava dinheiro extra para ter acesso a vegetais nas suas refeições, para lhe arrumarem o quarto e para lhe engraxarem os sapatos. Estes caprichos foram revelados após a descoberta de seis livros de contabilidade da universidade onde estudava, que foram digitalizados e podem ser consultados online aqui.

Texto e Foto: Luís Soares
Fonte: Público

domingo, 15 de março de 2009

Nova pilula... para homens!

Está cada vez mais próximo o dia em que não serão apenas as mulheres a tomar a pílula anticoncepcional.

Cientistas de todo o mundo têm investigado de forma persistente a fórmula masculina da pilula e encontraram-na. A pilula anticoncepcional masculina permitirá aos homens a ejaculação sem a presença de espermatozóides evitando, assim, gravidezes indesejadas.

O único senão é que ainda não se conseguiu saber se o homem será capaz, com a toma desta pilula, de voltar a ser fértil ao interromper o tratamento. Contudo, os efeitos secundários habituais das pilulas femininas - aumento do peso, diminuição de testosterona (hormona responsável pelos sinais masculinos na mulher, como os pêlos em excesso e as borbulhas) ou a diminuição do desejo sexual - não afectarão os homens que a tomarem.

A substância activa - ATD - inibe a produção de espermatozóides sem afectar a testosterona, sendo uma inovação em larga escala neste campo da saúde, permitindo às mulheres prevenir os inúmeros problemas de saúde que advêm de muitos anos, por vezes décadas, da toma da pilula.

A pilula masculina já foi testada em ratos e o próximo passo será testá-la em cães, gatos e macacos para melhor perceber o seu provável funcionamento no corpo humano.


Fonte: Diário de Notícias

domingo, 8 de março de 2009

Em 30 minutos, adeus fracturas!

As doenças relacionadas com o envelhecimento humano têm vindo a ser alvo de inúmeras investigações médicas nas últimas décadas. O colesterol, a osteoporose e os efeitos negativos da menopausa são algumas das doenças que preocupam os portugueses, especialmente aqueles com mais de 50 anos.

A osteoporose é uma doença que causa um enfraquecimento dos ossos, levando a que estes deixem de estar preenchidos e formem uma rede. Atinge uma grande percentagem da população mundial.






O enfraquecimento dos ossos tem como consequência a perda de massa óssea em todo o corpo mas uma das grandes preocupações é a pressão óssea que provoca na coluna e que leva a que qualquer movimento brusco provoque uma fractura na mesma. Uma queda, um espirro e um esforço para pegar numa criança bastam para que o osso ceda à pressão e parta.

Estas fracturas limitam fortemente a vida dos doentes, tornando impossíveis as tarefas mais simples do dia-a-dia como andar, sentar, deitar, comer e subir escadas.

Surgiu em 1998 a cirurgia que resolve este problema, a cifoplastia com balão. Um procedimento minimamente invasivo, simples, de recuperação rápida e eficaz. A operação pode ser feita com anestesia geral ou local, dura cerca de 30 minutos e caso tudo corra bem o paciente poderá deixar o hospital no dia seguinte.

Com esta técnica é possível entrar numa sala de operações em cadeira de rodas (por obrigação física e não por protocolo) e sair a caminhar.



Para realizar a cirurgia são feitas apenas duas pequenas incisões, com cerca de 1 cm, no local da fractura.







Nestas incisões são inseridos dois pequenos instrumentos, com a grossura de um lápis, que irão perfurar o osso fracturado.



Estes instrumentos inserem o balão, que irá ser insuflado para preencher o espaço comprimido pela pressão.

Depois de insuflado, o balão repõe o tamanho normal do corpo vertebral. Nessa altura, o balão é novamente desinsuflado para ser inserido um cimento ósseo que preencherá o espaço.
Depois da cirurgia os doentes recuperam a liberdade de movimentos e põem um fim naquilo que os incomodava: a dor.

Apesar dos benefícios desta cirurgia, poucos são os doentes - e os médicos - que a conhecem.

É, por esse motivo, urgente promover os mecanismos de detecção de fracturas da coluna e seus tratamentos, bem como dismistificar as cirurgias em si, já que estas são normalmente vistas como procedimentos complicados e dolorosos, levando os doentes a evitar o tratamento e, consequentemente, a piorar a sua qualidade de vida.

Não significa isto que podemos deixar de ter cuidados com a saúde, para evitar o aparecimento e avanço da osteoporose. A ingestão de cálcio e vitamina D, o exercício físico e apanhar todos os dias um pouco de sol são meio caminho andado para a prevenção, sempre acompanhados da visita ao médico e a realização de exames como a densitometria óssea e outros que o seu médico indicar.

Imagens retiradas de www.spinalfracture.com

sexta-feira, 6 de março de 2009

O Kepler

Foto:NASA/Jack Pfaller
Trabalhadores da NASA na preparação para o lançamento do Kepler

Um passo para a descoberta de vida no Universo


Estaremos ou não sozinhos?
A eterna questão da Humanidade - seremos ou não os únicos habitantes do Universo? Existirão mais planetas com vida como o nosso planeta azul? É a esta questão que o Kepler, o novo telescópio espacial da NASA vai tentar responder. 478 milhões de euros e uma tonelada, o Kepler e o seu foguetão Delta II estarão prontos a ser lançados no espaço por volta das 4h da manhã da madrugada de sexta feira desde o Cabo Canaveral, na Florida. A sua missão é muito específica – descobrir planetas semelhantes à Terra, com condições para suportar vida, fora do sistema solar, os chamados exoplanetas.

Como funcionará o Kepler.
Este telescópio irá “olhar” para um raio que contém cerca de 100 mil estrelas como o Sol. Através do uso de detectores especiais como o das máquinas digitais, o Kepler conseguirá detectar as flutuações de luz mínimas emitidas pelas estrelas e que se devem à passagem de um planeta à sua frente. Cada vez que o brilho de uma estrela reduzir é sinal de que poderá haver um planeta próximo. Este é o chamado método dos trânsitos.
De salientar que o Kepler tem um olho extremamente aguçado, citando James Fanson responsável pela missão “Se o Kepler olhasse para a Terra à noite a partir do espaço, seria capaz de detectar a diminuição da luz num alpendre se alguém passasse à frente da lâmpada”(in Público).

É este olho apurado que, ao confirmar várias vezes num mesmo período, a redução de luz de uma mesma estrela, poderá garantir que esta redução se deve efectivamente à passagem de um planeta e não de outro fenómeno. Isto porque estes planetas poderão ter uma órbita muito semelhante à da Terra em torno do Sol.
O Kepler deverá detectar centenas de planetas de vários tipos, mas apenas aqueles que estiverem ao alcance da sua órbita o que poderá deixar por descobrir outros exoplanetas. Se for bem sucedido perceberemos que o planeta azul não é o único com vida, que ela poderá existir algures, a anos-luz no Universo.

O Kepler será colocado em órbita à volta do Sol, seguirá o rasto da Terra e ficará orientado para uma porção do céu visível do Hemisfério Norte da Terra ao longo de, no mínimo, 3 anos e meio que poderão estender-se até aos 6.
Fontes:NASA; Público










quinta-feira, 5 de março de 2009

A Evolução de Darwin [FOTO-REPORTAGEM]

Por: Luís Soares e Susana Ferrador

Quando pensamos em Darwin pensamos imediatamente na Teoria da Evolução das Espécies...

que, há 150 anos escreveu o livro que prova que tanto a fauna como a flora não permaneceram imutáveis desde a sua criação.

No ano que comemora o bicentenário do nascimento deste cientista, A Evolução de Darwin, a exposição que tem lugar na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa...

conta com inúmeras curiosidades sobre o naturalista britânico como a primeira reconstituição tridimensional do cientista enquanto jovem, a observar um insecto.

Réplica do Beagle, o navio no qual durante 5 anos, o jovem Darwin deu a volta ao Mundo.

Referência a John Stevens Henslows, professor de botânica e especialista em besouros que viria a tornar-se tutor de Darwin. Tradução: "Sem Henslows, não haveria Darwin".

A exposição conta com espécies de animais, disponibilizados pelo Jardim Zoológico de Lisboa, que Darwin terá visto na sua viagem.

Entre estes, contam-se as Piranhas Characiformes, que quando ameaçados podem custar uma boa parte do corpo de outra espécie, incluindo um dedo humano em apenas uma mordedura.

Jibóia, de todas as espécies de Boas, é a melhor adaptada a uma grande diversidade de habitats...

No entanto, é das que demonstra menos afinidade com ambiente aquáticos, sendo terrestre e arbórea.

Vive desde o Norte do México até à Argentina.

Mico-leão-dourado, o maior do Calitricídeos. Protege-se das ameaças avisando o grupo através de 17 vocalizações distintas.

A população total em estado selvagem estima-se em apenas 1000 indivíduos.

Extremamente sociáveis, os Suricatas vivem em grupos familiares de 10 a 15 elementos em que as tarefas são distribuidas por todos e de forma quase rotativa.

Um dos elementos encontra-se sempre de sentinela, erguido sobre as patas traseiras e a farejar o ar. A hierarquia estabelecida no grupo é tão levada a sério que é frequente a expulsão dos elementos que não a cumpram.

Lagarto-dragão ou "lagarto-barbudo" devido à bolsa com escamas espinhosas que possui na zona da garganta que se pode expandir , dando a ideia de uma barba.

Tartaruga-leopardo-africana a espécie cujos machos se distinguem por uma emitirem uma vocalização muito característica durante o período de acasalamento, ao invés de protagonizarem lutas entre si ou agressões às fêmeas, como é comum entre tartarugas.

Parte do mapa da viagem de Darwin. Curiosamente as primeiras e últimas paragens da viagem do Beagle foram realizadas em solo português. Ilha Terceira à ida e Cabo Verde no regresso.

Réplica do quarto de Darwin a bordo do Beagle.

Figuras de mais animais que inspiraram A Teoria da Evolução das Espécies.

A única figura da exposição feita a partir de um animal embalsemado.

Gliptodonte, Gigante de Armadura: um dos mais espectaculares testemunhos encontrados pelo bicentenário naturalista foi a "armadura de um animal semelhante a um tatu, o interior da qual... era como um enorme caldeirão".

Nesta exposição também podemos encontrar cartas escritas pelo próprio Darwin...


algumas delas tão curiosas como esta onde após a ter dividido ao meio, escreveu os prós e os contras que poderiam advir de um casamento com Emma Wedgwood. A união de facto acabou por se concretizar.

Metáfora da Teoria da Evolução das Espécies, com um macaco vestido.

Escadas do Código Genético apresentado pelo cientista que na exposição tem um escorrega que permite aos miúdos descer pela Síntese de Proteínas.

Espaço onde os mais novos podem escrever uma carta ao Darwin. As melhores da semana são expostas.

A visita termina com um quadro que retrata uma das imagens mais conhecidas do homenageado por esta exposição que termina a 24 de Maio.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Editorial

Saudações! O meu nome é Luís Soares e em nome do quinteto que compõe a equipa deste portal, dou-vos as boas vindas a este projecto. Tanto eu como Joana Pimpista, Lara Ribas, Sílvia Lopes e Susana Ferrador somos alunos do 1º ano do Mestrado em Jornalismo da Escola Superior de Comunicação Social, localizada em Lisboa. Daí a escolha do URL que vos conduziu até aqui ser a soma das palavras "mestres em jornalismo científico" (não confundir com "mestre sem jornalismo científico), até porque posso falar em nome das minhas parceiras ao admitir que de mestres desta área (para já) não temos nada. Este facto, não inviabiliza que este sítio online venha a alojar peças de teor informativo que com a sua originalidade e credibilidade (as duas palavras com o sufixo -dade, que seguiremos à risca) esperamos que vos atraíam e vos tornem nossos assíduos seguidores (termo que substitui o previamente pensado "leitores", porque a informação será fornecida não só em textos, como em fotografia, áudio, video, entre outros).
Os principais temas do blogue serão Ciência e Tecnologia. O mote foi lançado pelo Professor Vasco Trigo, docente da cadeira de Atelier de Jornalismo Cultural e de Ciência, o que fará com que o Mestres em Jornalismo Científico seja utilizado como instrumento de avaliação. O nosso público-alvo será composto por todos aqueles que nos concederem uma oportunidade e connosco dispendam de uma forma enriquecedora e até divertida, o seu tempo. Bem-vindos e até já.